Você já imaginou como seria navegar pela web sem ter a visão? Se você acha que não é possível, está enganado. Existe um conjunto de normas e recomendações para se desenvolver websites de forma inclusiva, visando torná-los mais acessíveis a pessoas com deficiências. São as recomendações de acessibilidade na web, pela Web Accessibility Initiative (WAI).
O mundo pela perspectiva da pessoa com deficiência visual
Embora as recomendações de acessibilidade na web levem em conta também outros tipos de deficiências, como as motoras, as visuais consistem na maior parte dos casos. Obviamente, deficientes visuais não todos cegos. São pessoas com daltonismo, com baixa visão, visão em túnel, que têm dificuldade em perceber contrastes e cores, entre outros. Esse vídeo faz uma boa simulação de alguns exemplos de deficiências visuais:
Para usar um computador, a ferramenta de acessibilidade mais importante atualmente é o leitor de tela. O aplicativo é capaz de ler textos para o usuário, e grande parte das recomendações de acessibilidade visam tornar os sites mais amigáveis a essa ferramenta, para garantir que ela funcione corretamente.
Dois populares aplicativos leitores de tela são NVDA – Non Visual Desktop Access (para Windows) e Orca (para Linux), ambos disponibilizados gratuitamente.
Por que é importante?
Antes de mais nada, é importante esclarecer que desenvolver alinhado às recomendações não é e nem deve ser uma questão de altruísmo. Longe disso. Trata-se de uma questão de mercado. Segundo o IBGE, no censo de 2010 mais de 30 milhões de pessoas declararam ter algum tipo de deficiência visual, o que pode significar uma grande porção de consumidores que estão sendo ignorados e não vão consumir seu produto/serviço. Esse número não abrange pessoas que podem corrigir o problema de visão usando óculos ou lentes.
Em outras palavras, ao desenvolver de forma inclusiva você está garantindo que um número bem maior de pessoas possa ter acesso ao seu produto/serviço. Preocupar-se em atender às recomendações é antes de tudo, uma estratégia de mercado inteligente.
(Mas não há mal algum em contabilizar isso como algo de positivo que você fez por outras pessoas)
Então, mãos à obra
Desenvolver um site acessível não é demorado, nem difícil. Mesmo em sites já existentes, as recomendações não são propriamente difíceis de se implantar. Elas abrangem muitos tópicos para se cobrir em apenas um post, mas para garantir um bom início de implantação em seu site, seguem algumas diretrizes importantes:
1) Imagens e elementos não textuais: devem ter um texto alternativo (através do atributo alt em imagens, por exemplo), que descreva o elemento ou o que ele significa. Mesmo imagens meramente decorativas devem conter o atributo alt sem informações (alt=””), para indicar que aquela imagem não tem relevância para o conteúdo.
2) Links: evite usar o atributo title em links. Os leitores de tela não o leem, e mesmo que o leiam, vai soar confuso para o ouvinte. O ideal é montar o link com o texto o mais descritivo possível. Também evite usar links que abram novas abas (target=”_blank”). Ainda, evite usar o mesmo texto para links diferentes na mesma página, também pode causar confusão.
3) Navegação: use atalhos de teclado para toda a funcionalidade do site, é essencial para leitores de tela. Além disso, coloque links no começo da página que levem direto ao conteúdo. Isso vai possibilitar ao usuário que ele evite ter que ouvir o texto do cabeçalho a cada página que ele visite dentro do seu site.
4) Código HTML: seja qual for a versão do seu HTML, ele deve ser válido. A principal ferramenta para validar seu código é o validador da W3C.
5) Contraste: o texto deve ter um contraste mínimo de razão 4.5:1, exceto para textos grandes ou textos apenas decorativos.
6) CSS: ofereça uma versão da página em alto contraste (fundo bem escuro com fonte em cores claras), ela favorece a leitura para pessoas com baixa visão.
Mais sobre
A grande maioria dos sites hoje não são muito acessíveis, mas há muito material disponível para se aprender sobre acessibilidade. Você pode conhecer outros sites que lidam com esse tema em 6 sites para se informar sobre Acessibilidade na web.
Para o desenvolvedor, esse é ou deveria ser um assunto de grande relevância. É um grande diferencial que se pode agregar ao seu serviço, e uma é tendência mundial. O mundo caminha em direção à acessibilidade. Há muito a se aprender com isso, trata-se de um mergulho na experiência do usuário, de uma maneira bastante peculiar. Se não estiver convencido da importância desse trabalho, faça uma experiência: instale um leitor de tela e navegue de olhos fechados por pelo menos meia hora.
Pronto? Feche os olhos